Uma travessia dos sentidos
Transformação. Seja da matéria bruta em alimento ou das pessoas, o processo é o mesmo. É assim que o psicólogo Ricardo Pelegrini resume o vídeo “Travessia - Produção Visual da Oficina de Geração de Renda dos Usuários em Saúde Mental”, que será apresentado durante a 2ª Mostra Nacional de Práticas em Psicologia, que acontece entre os dias 20 e 22 de setembro, em São Paulo (SP).
A metáfora entre transformação das pessoas e alimentos pode não ter sido clara, mas basta dizer que o vídeo surgiu a partir de uma oficina de culinária, realizada há mais de 4 anos com usuários do Instituto de Saúde Mental (ISM) da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, no Riacho Fundo (DF). Os integrantes da oficina vendem lanches para outros usuários, funcionários e frequentadores do instituto e o vídeo registra, de forma representativa, o trabalho comunitário que é realizado para angariar renda.
Mas o conteúdo do vídeo vai além, conta Ricardo Pellegrini, psicólogo do DF que será o apresentador e debatedor do trabalho. Segundo ele, não se trata simplesmente de um documentário da oficina, mas sim de uma história de vida contada por meio de uma de suas integrantes. "Ela mostra como transformar a matéria bruta em alimento e como tudo é transformação, travessia. É um entrecruzamento de vários sentidos que está representado pela comida e pela história dessas pessoas”, conta Ricardo.
A produção - feita em parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc) - tem ainda um diferencial: a participação dos próprios atores, os usuários de saúde mental, na sua produção, roteiro e até mesmo na filmagem. “Este trabalho tem uma particularidade que é a vivência destas pessoas. É muito adequado o nome ‘Travessia’, que indica a passagem de certa condição para outra. De alienado, doente, para um sujeito que se apropria do seu estado psicológico e o transforma em uma condição produtiva”, relata Pelegrini.
Além da oficina de culinária, o Instituto de Saúde mental abriga diversas atividades e outras oficinas de geração de renda, por exemplo de produção de hortaliças, cuja renda é revertida para os usuários e também para a auto sustentabilidade da própria horta. A intenção destas atividades é melhorar a qualidade de vida, as trocas sociais e a produção de subjetividades dos usuários. “Investir na saúde é investir na autonomia dos sujeitos, para que se tornem atores criativos, recriem a própria vida e contribuam com seu meio social”, afirma o psicólogo.
O psicólogo conta que a inscrição deste vídeo na 2ª Mostra busca suprir certa carência que sentia e ainda sente, da necessidade de levar “para fora” o que é desenvolvido dentro do Instituto. “Fazemos um trabalho de ponta na área da saúde mental, psicossocial e antimanicomial e não temos uma visibilidade nacional. Queremos celebrar com outros colegas essa terapêutica, que faz frente a outras mais tradicionais. Foi um trabalho feito com muita alegria e queremos expor isso a outras pessoas”, conclui.